Nosso Retorno
Olá pessoal!!
Estou retornando após esse período um tanto parado devido a pandemia e também alguns motivos pessoais, porém sem nunca deixar a ideia desse projeto de lado.
Não estive parado nesse período totalmente, junto de alguns amigos montamos um grupo para divulgar notícias de Campinas e região onde fazemos o trabalho de um jornalismo local. Trata-se do Estação E006 que convido a todos vocês a uma visita buscando informações de nossa região e também uma interação conhecendo nosso grupo de colaboradores. O site pode ser acessado aqui: https://estacaoe006.wordpress.com/
Também participei, a convite de uma amiga, de um reality literário onde conheci pessoas incríveis e que trabalhamos justamente um tema relacionado a deficiência, a maneira de como as pessoas enxergam e lidam isso e movimento de inclusão.
Achei tão rico esse trabalho que estou dividindo nosso espaço aqui, criando essa nova página para que possamos entender e discutir mais sobre tudo isso. Estaremos publicando textos mostrando as ideias, a visão e o pensamento de outras pessoas interessadas também na nossa realidade.
Espero que gostem e também comentem sobre os textos que serão publicados.
Abraços.
Gustavo.
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Nasce um projeto
Um dia, uma jovem editora, a Unidos Pela Palavra, resolveu criar o Reality Show Literário Mestres da Escrita – pioneiro na categoria no Brasil.
Eu, sem ter ideia de onde isso me levaria, resolvi participar. Inscrevi meu livro “Quando nasce a mãe – histórias sobre a maternidade de cada uma” no concurso.
Cheguei à final.
O resultado?
Depende do significado da palavra resultado.
Poderia dizer que ainda não sei, já que conheceremos as vencedoras no dia 11/12.
Mas, posso dizer que já conheço alguns. Esta série de matérias que aqui serão publicadas é um deles.
Uma das provas do Mestres da Escrita consistiu em uma ação social. Nasceu, então, a 1ª Oficina de Escrita – Palavras Inclusivas.
Nosso foco foi na produção de textos que refletissem sobre inclusão, capacitismo, acessibilidade e deficiência.
Hoje, 03 de dezembro – Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, com o apoio do www.acessup.com.br, vamos apresentar ao mundo alguns dos textos produzidos a partir das reflexões geradas lá.
Reflexões como a da Jeruzia sobre felicidade:
“Felicidade… quero a felicidade de ser feliz. Quero a felicidade de experimentar ser eu sem medo, sem julgamentos. Quero uma felicidade sem limites. Quero a felicidade de ser apenas eu”.
Minha eterna gratidão aos nossos apoiadores:
@direitosdapcd, @todosnadiferença, @editoraunidospelapavra, @historiascomconsciência, www.acessup.com.br e a nossa equipe: @danielagraivos @samantanlopes @gurodelli @almeiida.marii @meire.elem.galvao e, em especial, a @leandracaleidoscopica que abriu meus olhos para um universo maravilhoso de inclusão logo no início desse projeto.
Esperamos que esse seja apenas o pontapé de um longo projeto.

#paratodosverem: Imagem de destaque: banner da oficina em amarelo com laranja e vermelho com os dizeres – 1ª Oficina de Escrita – Palavras Inclusivas Concluída
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Existo e Resisto
O dia 03.12 é Dia das Pessoas com Deficiência do mundo todo. Dia de mostrar que EXISTIMOS!!!
Existimos, todo dia lutando contra o Capacitismo.
Existimos, querendo por mais visibilidade.
Existimos, falando que não somos “ESPECIAIS”, mas apenas Pessoas.
Existimos, noite e dia garantido os nossos direitos perante a sociedade.
Existimos, para deixar o mundo um pouco melhor para aqueles que virão.
Mas… não vale só EXISTIR, temos que RESISTIR!!!
Resistimos, com as dores que são causadas em nossos corações.
Resistimos, com as palavras que jamais sairão em nossas cabeças.
Resistimos… tentando viver em PAZ.
Eu, Thatiane, EXISTO E RESISTO por ser PESSOA COM DEFICIÊNCIA!!!

#paratodosverem: Imagem de Destaque: fundo vermelho com a ilustração em preto e branco de um homem e uma mulher rasgando o fundo e entrando em contato com outra mulher. O banner apresenta em letras brancas os dizeres: 03 de dezembro – Dia Internacional das Pessoas com Dediciência
»Esse texto foi produzido na 1ª Oficina de Escrita – Palavras Inclusivas e faz parte de uma série de publicações que serão feitas aqui.
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CAPACITISMO E A FILOSOFIA DA DIFERENÇA
O que você olha, pensa e sente quando se encontra com alguma pessoa diagnosticada como tendo alguma deficiência? Em meus encontros com educadores, no que chamamos de formação de professores para a inclusão, sempre faço essa pergunta: qual é o contrário da palavra deficiência?
Na grande maioria das vezes, a resposta é: o contrário de deficiência é eficiência. Mas não! A resposta está errada! O contrário de eficiência é ineficiência. Vamos então ao dicionário: Ineficiência é sinônimo de incompetência, inabilidade, impotência, incapacidade, fraqueza, inutilidade, imprestabilidade, entre muitas outras palavras que negativam o ser humano.
E a pessoa eficiente é aquela que “realiza suas atividades de forma correta, que é competente em suas funções cotidianas”. A pergunta que fica no ar é: será que existe, na História da humanidade, alguma pessoa totalmente eficiente ou ineficiente?
Mas afinal de contas, o que é deficiência? Voltemos ao que nos diz o glossário: é sinônimo de defeito, falha, falta, fraqueza. E o próprio dicionário coloca o “excesso” como uma das palavras antônimas à deficiência.
Ora, significa dizer que uma intitulada pessoa sem deficiência não falha e não tem nenhum momento de fraqueza em sua vida, ou seja, não falta nada a ela! Seria a perfeição em si. Essa pessoa existe? Com certeza, ela não sou eu! E você? Nunca sentiu fraqueza e carência?
PAULO FREIRE E A INCOMPLETUDE DO SER
Caso a atemporal e célebre tese da incompletude do ser de Paulo Freire estiver correta, cai por terra então a rígida e histórica separação dos seres humanos em “normais-iguais” de um lado e “anormais-diferentes” de outro. Para o nosso legítimo patrono da educação, todo o ser humano é incompleto e tem todas as capacidades de ir sempre além dele mesmo, independente de sua condição.
O ser incompleto, para Paulo Freire, não é o mesmo que apontar o ser humano como um indivíduo carente em sua essência. Somos incompletos simplesmente porque não existe a perfeição.
E essa divisão imutável e cultural, que separa as pessoas em com e sem deficiência acaba, na prática, colocando aqueles que se autodeclaram normais no patamar fictício de seres completos e acabados, o que é uma ilusão delirante e autocrática.
No outro lado, dessa mesma moeda, está no imaginário da grande maioria das pessoas que deficiência é sinônimo de ineficiência. Está aí o embrião do que é chamado hoje de capacitismo: a crença de que as intituladas PCDs são incapazes de criar suas próprias histórias de vida.
A FILOSOFIA DA DIFERENÇA E A QUEBRA DE PARADIGMAS
Fala-se muito hoje na necessidade de uma luta anti-capacitista. Ainda bem! Porém, a Filosofia da Diferença, desde pelo menos o Século XVII, com Nietzsche e Espinosa, entre outros, já nos alertaram que a sociedade moderna iria cristalizar uma visão negativa do que é ser diferente.
Trazendo o debate para a atualidade, é o mesmo que dizer: para ser incluída a pessoa tem que deixar de ser diferente para entrar no “seleto” e “fictício” mundo da “igualdade-normalidade”.
É querer incluir alguém (fora de um padrão social visto como a única verdade a ser seguida), em um espaço idealizado que não existe: o da “igualdade-normalidade”.
A Filosofia da Diferença também nos ensinou que temos de olhar o que a pessoa tem, enxergando sempre o que cada um de nós tem de singularidade e característica própria, cada uma com sua potência, seu modo de ser único e insubstituível.
Porém, a nossa sociedade costuma focar, em linhas gerais, no que a chamada pessoa com deficiência não tem, estigmatizando-a como um ser inferior, quando comparado à uma ilusão de superioridade e corpo-normatividade.
NADA FALTA À PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Pensando na Filosofia da Diferença, também chamada de filosofia prática, ao cego nada falta se ele não for comparado hierarquicamente a quem enxerga, vendo o enxergar como estando dentro de um padrão social dominante. Nessa perspectiva, é a rua esburacada que gera o sentimento de deficiência para o cadeirante.
E o que falar das chamadas deficiência intelectual, paralisia cerebral e autismo? Quem gera o sentimento de falta e de carência em uma “pessoa com deficiência”, portanto, é a comparação a conceitos inexistentes de igualdade e normalidade.
Nesse contexto, apenas deixaremos de ser capacitistas quando conseguirmos olhar o que cada pessoa tem de potencialidade criativa, conectando-a ao que ela tem e pode. O próprio Espinosa nos mostrou: todos nós temos limites, mas o limite de cada um de nós é ilimitado.
Espinosa perguntou: O que pode um corpo? A resposta dele foi simples e complexa. Não sabemos! Só saberemos experimentando. Se a “pessoa com deficiência” conseguir se conectar ao que ela pode, não vai se rebaixar diante de uma ação preconceituosa. Não vai se diminuir ou será gerado nela o sentimento de inferioridade e impotência.
Ao contrário, essa pessoa estará sempre se posicionando positivamente em sua existência, como um ser potente, criando novas realidades a partir do que ela pode. A deficiência, a partir daí, deixará de ser problema e se tornará apenas uma característica inerente a cada pessoa, seja ela qual for!
#paratodosverem: a imagem de destaque apresenta uma pessoa jovem abraçada com uma orquídea cor-de-rosa
»Esse texto foi produzido na 1ª Oficina de Escrita – Palavras Inclusivas e faz parte de uma série de publicações que serão feitas aqui.
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Além dos Olhos
Eu lembro do barulho. O som que ecoava, às vezes organizado no meio do caos, chamava minha atenção. Quantas pessoas? Trinta? Cem? Cento e trinta? Era impossível contar, era impossível saber.
Eu lembro do cheiro. Esse estava longe de ser organizado em meio ao caos. O caos já tinha se tornado completo. Um perfume caro, um perfume barato, suor e de repente: urina? Sério? Urina?
Independente do que me cercava de positivo ou negativo, eu tinha me proposto estar ali e enxergar com a lente do coração, sem julgamentos. Nunca entendi muito bem a graça que as pessoas viam quando falavam com tanto floreio sobre aquele lugar. Diziam que era a alegria do povo representada em poucos momentos. Outros, já diziam que era pela obra de arte que era apresentada por meio da música e de todo o visual monumental. Alguns eu já sabia que era simplesmente para olhar corpos mesmo.
Perguntei mais algumas vezes se iria demorar para começar, afinal, estava tudo preto. Claro que tive a delicadeza de fazer isso com um belo sorriso no rosto para não dar o ar impaciente e meio descrente de toda a magia que me prometeram que aconteceria.
Eu quase desmaiei de susto quando um grito, que eu não podia identificar de onde vinha, ecoou por todos os lugares possíveis. E, de repente, quando eu pensei que não dava para ficar mais alto, junto com um cavaquinho de fundo, conseguiram subir para o volume ideal para estourar os tímpanos: ALÔ COMUNIDADE!!!
Os tambores preencheram todo e qualquer espaço vazio que poderia ter naquele lugar! Ao som de uma grande organização de batidas, o meu coração entendeu o que era o samba. Eu brigava com as minhas pernas que nunca aprenderam a sambar. Eu nunca tinha visto ninguém fazer isso, logo, era impossível imitar esses passos, mas o meu coração sambou. Um arrepio sobre a pele e sobre minha alma se acomodou de forma surpreendente.
Pela primeira vez no samba. Pela primeira vez em um famoso carnaval. Eu só conseguia pensar: “felicidade é quando a boca é pequena demais para o sorriso que a alma quer dar”. Nessa pequenez do meu sorriso, com meu coração ainda aos saltos, a alegria transbordou em rios de felicidade através dos meus olhos que nunca puderam enxergar uma só imagem.

#paratodosverem: a imagem em destaque apresenta uma mulher segurando uma bengala guia em meio a integrantes da bateria de uma escola de samba
>> Imagem em destaque: Revista ISTOÉ Reportagem: Carnaval da Inclusão
»Esse texto foi produzido na 1ª Oficina de Escrita – Palavras Inclusivas e faz parte de uma série de publicações que serão feitas aqui.
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O Gato
Desde muito jovem fui apaixonada por gatos, mas infelizmente minha família não era tão fã assim. Os anos foram passando e só depois que comecei a morar sozinha que pude os ter. Hoje tenho quatro. A ideia era ter apenas um, um gato preto. Resolvi adotar um filhotinho e aguardei ansiosamente o dia que ele viria para casa. Fui acompanhando o seu desenvolvimento e quando finalmente ele pode vir para minha casa, ele morreu.
No auge da minha tristeza apareceu outro filhotinho, um Siamês lindo que foi meu melhor amigo assim que começou a pandemia. Resolvi adotar mais um e enfim meu gato preto apareceu, Eclipse é o nome dele, o mais arisco deles, não gostava de colo, nem de carinho, veio doentinho, como todos os outros. Levei a veterinária, vacinei, tratei e todos eles ficaram fortes e saudáveis.
Perdi minha única fêmea, leucemia felina, fizemos de tudo para que ela ficasse boa, mas ela precisou partir e eu adoeci. O luto me pegou de uma forma tão violenta que não conseguia mais reagir, até que ganhei um outro gato, já grandinho, a dona dele viu meu sofrimento e me presenteou para me ajudar a superar aquela dor. Ele é extremamente carinhoso, tivemos um longo processo de adaptação com os outros gatos e hoje, meus quatro gatos se dão super bem.
Passei por dias difíceis, quando a data do meu aniversário de acidente foi se aproximando, tivemos um acidente doméstico, a pia da cozinha caiu, me machuquei, me cortei nos cacos de vidro e ele, meu gato preto, também se machucou, perdeu a metade do rabo e dois dedos da pata posterior direita.
Agora, só consigo pensar em como vai ser a vida dele. Será que na comunidade dos gatos vão trata-lo com diferença? Será que vai ser rejeitado por gatas? Vai conseguir ter um bom equilíbrio para fazer todas aquelas coisas de gato? Vão dizer que ele não é capaz de fazer as coisas dele como, morar sozinho, dirigir, fazer comprar ou cuidar da própria casa? Será que ele vai se sentir inseguro ou menos bonito por faltar alguma parte ou se entristecer ao olhar no espelho e se comparar com os outros gatos? Será que entre eles também existe um “padrão”? Para calar todas essas inquietações eu resolvi só sentir e o que sinto por ele jamais mudaria independente do que acontecesse, o sentir não precisa de forma ou padrão, não é explicável nem justificável, a gente só sente. Então, apenas me permito sentir e eu sinto muito!
#paratodosverem: A imagem em destaque traz um gato escondido atrás de uma caixa de papelão espiando apenas com metade do rosto aparecendo
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Eu sou alegria
Eu sou alegria por estar viva, mas a invisibilidade faz com que eu não exista.
Eu sou alegria por estar viva, mas luto diariamente por mais acessibilidade.
Eu sou alegria por estar viva,e jamais desistirei dos meus sonhos.
Eu sou Thatiane , sou uma pessoa com deficiência física e auditiva.
Sofro preconceito, por ter uma condição física fora do padrão da sociedade.
Mas isso não define o que sou, pois muitos esquecem de ver o que penso e sinto.
E é isso…muitas pessoas têm um universo para mostrar ao mundo, mas poucos param para observar quem é a pessoa que está vivendo nesse mundo!

#paratodosverem: a imagem de destaque traz um emoji feliz ou o que podemos chamar de carinha amarela feliz
»Esse texto foi produzido na 1ª Oficina de Escrita – Palavras Inclusivas e faz parte de uma série de publicações que serão feitas aqui.
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Apenas uma questão de adaptação
Quando ela completou 13 anos, começaram a dizer que Marina era preguiçosa, desleixada e até egoísta. Talvez fosse a crise da adolescência, ou o impacto da mudança de escola ou simplesmente o desconforto da menstruação que tinha chegado cedo demais para aquela cabecinha infantil. Podia ser qualquer coisa, mas diziam que era preguiça.
As notas na escola continuavam boas, assim como a dedicação à leitura (estrita aos livros que à interessavam) e o cumprimento de suas tarefas escolares e domésticas, incluindo o cuidado de seus irmãos mais novos.
No entanto, as professoras da nova escola se queixavam que Marina era voada em sala de aula. Não prestava atenção nas aulas e ficava escrevendo aleatoriedades em seu caderno. Uma das professoras disse: “é como se ela estivesse sozinha em sua bolha, mesmo estando cercada pelos outros alunos”.
Ela não copiava todas as palavras do quadro negro, fazia poucas anotações sobre o conteúdo da aula e frequentemente era pega distraída em seus escritos particulares.
As professoras se incomodaram e apontaram o dedo para dizerem que ela precisava parar de ser tão preguiçosa. A família a colocou de castigo – “sem TV por uma semana” – para que aprendesse a prestar atenção na aula. E a garota, no escuro noturno do seu quarto, chorou lágrimas doloridas porque não sabia o que estava fazendo de errado.
Ela seguia cuidando de seus irmãos mais novos, fazendo seus deveres de casa e lendo seus livros preferidos. Ela estudava bem sozinha, seguia tirando boas notas e não arrumava nenhuma confusão. “O que mais eles querem que eu faça?”, ela pensava. E assim, seguia chorando todas as noites.
Marina começou a se esforçar mais para prestar atenção nas aulas. Ela ouvia as professoras com clareza, mas sentia que apenas ouvir era pouco. Era como se o seu pensamento fosse capaz de acomodar mais coisas ao mesmo tempo. Ou seja, ela podia ouvir as professoras, assimilar o conteúdo e aprender, ao mesmo tempo que o pensamento se ocupava com outra coisa no plano de fundo. O problema é que às vezes o plano de fundo se tornava mais interessante que repetições de conteúdos que Marina já tinha compreendido e, assim, ela mergulhava em seu mundo paralelo até ser duramente repreendida mais uma vez.
Ela se sentia como uma ervilha sem casca a cada vez que seu nome era falado com amargor. “Marina, volte para o mundo real!”, se tornou o bordão das professoras e dos colegas malvados que a faziam tremer de vergonha e medo de pisar na escola no dia seguinte.
As lágrimas noturnas começaram a ser acompanhadas por insônia. E durante as noites sem dormir, a garota decidiu que além de prestar atenção na voz das professoras, também iria transcrever tudo que via no quadro negro para seu caderno, de forma a ocupar 100% de sua capacidade mental e não se distrair mais.
Logo que começou seu novo desafio, a dor de cabeça chegou com força. Ela olhava para o quadro e lia palavras que não faziam sentido, as quais ocupavam tanto seu pensamento que ela perdia a conexão com a voz da professora. Ela anotava o que podia, mas logo as professoras resolveram revisar seu caderno e Marina foi repreendida, mais uma vez, por ser tão preguiçosa e escrever tudo errado.
A garota entrou num buraco de tristeza e solidão. “Por que todos dizem que sou preguiçosa, se me esforço tanto?”. As crises de dor de cabeça e insônia foram piorando dia após dia. As tias distantes disseram que isso era rebeldia da adolescência – “esses jovens de hoje não têm limites” – e assim, a família da garota tentava colocá-la nos eixos cortando tudo que ela gostava de fazer.
Um dia, a beira do desespero, Marina estava se esforçando tanto para copiar as palavras estranhas do quadro negro, que foi tomada por uma dor de cabeça forte o suficiente para fazê-la desmaiar. Aterrorizadas, as professoras levaram a garota para a emergência de saúde mais próxima, empenhadas em fazê-la acordar sem sentir certa pitada de culpa. Mesmo depois de estar acordada e acompanhada dos pais, a dor de cabeça era aguda e Marina mal conseguia abrir os olhos. As tias distantes logo disseram umas para as outras, pelo telefone, que isso só podia ser um tumor no cérebro. As professoras conversaram no corredor sobre o risco que o excesso de computadores na vida dos jovens estivesse afetando suas funções cognitivas.
Por sorte (porque é preciso sorte nestes casos), Marina foi atendida por uma equipe de profissionais da saúde amorosos e competentes o suficiente para informarem a família o que realmente estava acontecendo com a menina: Marina tinha 3 graus de hipermetropia e por isso não enxergava bem o quadro negro da escola, ao mesmo tempo que era capaz de ler, se posicionasse os livros na distância apropriada para ela. Ela também estava sofrendo um quadro de ansiedade extremo e precisava de acompanhamento psicológico urgente, apesar de ser uma menina muito inteligente, que aprendia mais rápido que a maioria dos jovens.
Desde o dia do aniversário de 13 anos de Marina, tudo que ela precisava era, apenas, de um par de lentes ajustadas em uns óculos. Usar óculos era apenas o meio que ela precisava para enxergar a vida, o quadro negro e as anotações das professoras. Mas ninguém conseguiu ver isso e passaram a julgar a menina até que ela desenvolvesse um quadro profundo de ansiedade e quase depressão.
Muitos anos depois, adulta, usando óculos desde os 13 anos, e refletindo sobre suas experiências, Marina percebeu que todas as pessoas estão usando lentes distorcidas para enxergar o mundo. Sua leve deficiência visual foi julgada como preguiça, simplesmente porque ninguém foi capaz de ver que a dificuldade em realizar suas tarefas era apenas uma questão de adaptação. Ninguém pensou em adaptação, já que parece ser mais fácil julgar as pessoas como incapazes, em vez de ajudá-las a adaptar seus cenários para viverem melhor.
Marina adulta é uma pessoa tranquila e sem ansiedade. Mas esta experiência a marcou de tal forma, que hoje ela luta para que as pessoas percebam que ao retirar as lentes distorcidas dos olhos, é possível ver pessoas incríveis como elas são, com suas deficiências e adaptações, sem julgamentos e sem pressões desnecessárias.

#paratodosverem: a imagem em destaque mostra uma menina sentada de costas em um balanço localizado em uma área verde aberta
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No quebra-cabeças da vida
Quando me disseram que teríamos uma coleguinha diferente em classe, mil diferenças me passaram pela cabeça, menos aquela. Éramos crianças e vivíamos a inocência da tenra idade, vivíamos como se não houvesse amanhã, cada dia era dividido somente com as atividades da escola e as brincadeiras na rua de chão batido. Eu era o Pedro, Pedrinho para os amigos e Pedroca para o meu amado avô, que hoje já não está mais entre nós.
A professora chegou à classe com uma cara preocupada, andou de um lado para outro, abriu as cortinas e pediu nossa atenção, parecia algo sério. Ela não explicou muita coisa, mas a palavra diferença fazia parte do discurso dela e ainda martela em minha cabeça, tanto tempo depois. Diferença não era igual, ou semelhante, já havia aprendido sobre sinônimos e antônimos com uma outra professora, no ano anterior.
Teríamos uma nova colega de classe, ela chegaria no dia seguinte e fomos orientados a não fazer graça com a diferença dela, hoje chamam isso de bullying. A criançada logo esqueceu o aviso da professora, somente eu ainda tinha na mente a palavra diferente escrita com letras MAIÚSCULAS e em negrito.
Quando cheguei em casa naquele dia, ainda estava atormentado “o que seria uma criança diferente?”. Meu amigo Thiago sempre tirava as piores notas em matemática, eu as melhores, éramos muito diferentes. Camila também era muito diferente da maioria dos meus colegas, ela se sentava na última cadeira da fila e, para desespero da professora, estava sempre muito calada, até mesmo no recreio. Um livro era seu companheiro preferido, ela escrevia como ninguém, era realmente diferentona, pois todos nós queríamos mesmo, era nos divertir e reclamar da merenda escolar.
Tinha muitos alunos diferentes, como eu conseguiria saber qual daquelas diferenças seriam iguais as diferenças da aluna nova? Ela poderia ser diferente de diversas maneiras. Quando dei por mim, minha mãe já estava exigindo que eu fosse dormir e, deixasse de lado o livro que eu fingia ler e que somente agora ela ficará sabendo, eu não lia coisíssima nenhuma, ficava lá, só olhando as palavras e com a cabeça no espaço.
— Vá já dormir menino, seus irmãos já estão na cama faz tempo.
Percebi naquele exato momento, percebi que em minha casa, também éramos diferentes, minha mãe vivia dizendo isso aos quatro ventos. O João, meu irmão mais velho era o organizado e ajudava nas tarefas domésticas, o caçula, passava o tempo estudando ou ajudando ao nosso pai com alguma coisa e eu, o do meio, nunca estava a fim de fazer coisa alguma, o futebol tomava todo o meu precioso tempo, como eu iria ajudar em algo?
— Como fui colocar no mundo três filhos tão diferentes — era a retórica usada cotidianamente por minha mãe.
No dia seguinte, todos estávamos ansiosos pela chegada da aluna diferente, ainda em maiúsculas, contudo quando ela chegou, não parecia aos meus olhos, diferente, mas para ser sincero, os olhos dela eram muito diferentes dos meus quase sempre opacos, sem brilho, os cabelos também eram muito diferentes dos meus, a boquinha então, parecia um pequeno botão de rosa. Tudo nela era realmente diferente, magicamente diferente. Só percebi tempos depois que nossas diferenças, nos fazia iguais.
Hoje, vendo-a segurar nosso primeiro filho nos braços e tentando desajeitada se acomodar na cadeira de rodas, corro ao seu socorro, mas sempre pareço muito desastrado diante da destreza e determinação que ela tem em tantas coisas e eu, em quase nenhuma. Ainda me recordo quando corríamos pelo pátio da escola, eu quase sempre deixava a cadeira de rodas cair em um buraco qualquer e ela me advertia entre gargalhadas.
— Cuidado por onde vai, magrelo.
Eu já não sou mais o magrelo pelo qual ela se apaixonou. Tudo em minha vida e em mim se tornou diferente, a partir do momento em que nos conhecemos. Se eu pudesse reencontrar minha antiga professora do ensino primário eu diria hoje, o que não soube dizer na época e que me deixou por vezes triste.
— Professora, a senhora tem razão, Catarina é mesmo diferente, como diferente são muitas coisas. Diferente é a primavera estação das flores e o outono estação dos frutos. Diferente é o verão, estação de sol e praia e o inverno de frio e chocolate quente, isso é bom. Diferente é a noite estrelada e o dia ensolarado, é isso também é bom. Diferente é o sorriso de alegria e a lágrima de tristeza, contudo ainda alegre também choramos, de alegria e isto é muito bom. Saiba que as peças de um quebra cabeças também são diferentes, mas se encontram em suas diferenças e formam um todo coeso. Catarina e eu somos peças do mesmo quebra cabeças da vida.

#paratodosverem: a imagem em destaque traz dois corações, sendo um branco e um vermelho, unindo-se através de uma peça que os torna uma quebra-cabeçcas
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Cegueira da Alma
Ali, na mesa daquele café com eles, Benê me fez um desafio, na verdade, quase uma sentença:
-Vanessa, agora é a sua vez!
Senti meu corpo gelar.
Eu sei, é uma reação exagerada, mas, naquele momento, eu acreditava já termos encerrado as atividades.
Achava que só tomaria meu café e conversaria sobre os resultados do nosso trabalho.
Mas, não. Benê e Renatinha me propuseram uma brincadeira. Pouquíssimos instantes tão marcantes que cá estou eu contando essa história 5 anos depois.
***
Eu cursava jornalismo. Era por isso que eu estava na mesa com Benê e Renatinha. Nós, os alunos, recebemos a proposta de desenvolver um trabalho ao longo do semestre que envolvesse uma ação social e resultasse em uma reportagem.
Nossa equipe decidiu trabalhar com o Centro Louis Braille de Campinas – SP. Conhecemos Benê e Renatinha por conta disso. Eles trabalhavam na ONG que atende pessoas com cegueira e baixa visão.
Ao longo daquele semestre, foram várias visitas, reuniões e pesquisas. Naquele dia do happy hour, estávamos finalizando uma das atividades que compunham o projeto.
Quando fomos ao Centro Louis Braille pela primeira vez fiquei impressionada com a autonomia daquelas pessoas com deficiência visual.
Foram pessoas com deficiência visual, inclusive Benê, que nos apresentaram o espaço.
Eles subiam e desciam as escadas, passeavam pelas salas e espaços externos com tanta destreza que eu ficava em um misto de sentimentos.
Meu primeiro impulso era querer ajudar. Eu imaginava um deles tropeçando e caindo a qualquer momento.
Eles achavam graça do meu desajeito porque não precisavam de ajuda. Conheciam aquele espaço como a palma mão. Era ali que encontravam eco, era ali que encontravam apoio, era daquele espaço que saíam as forças para lutar.
Mas, para mim, a ideia pré-concebida de uma pessoa com deficiência visual não coincidia com aquilo. Eles não eram “a velhinha na faixa de pedestres pedindo ajuda”.
Juro, cheguei a pensar se eles não enxergavam mesmo. Vergonhoso para mim, eu sei. Mas nunca havia sido apresentada a situações parecidas.
Fora daquele espaço conhecido por eles, eles têm também relativa autonomia. São pais e mães, esposos, filhos. Trabalham, andam nas calçadas, atravessavam as ruas, respondem mensagens, são ativos nas redes sociais.
Foi esse sentimento – tido não só por mim, mas por outros membros da equipe -, que nos motivou a fazer o experimento daquele dia antes do happy hour.
Queríamos que as pessoas pudessem entrar em contato com o trabalho daquela instituição. Um trabalho que dava autonomia para as pessoas, que as acolhia e as ensinava.
Propusemos então uma atividade.
Fomos para uma praça e convidamos pessoas que por ali passavam para participar de uma “competição”.
Cada participante colocaria uma venda e tentaria dar uma volta no coreto com os olhos tapados e o auxílio de uma bengala. Quem chegasse primeiro, venceria a competição. Finalizando o trajeto, avisaria o outro e tirariam as vendas.
O que esse convidado na praça não sabia é que seu “concorrente” era uma pessoa acostumada a fazer aquilo porque tem deficiência visual e fez seu processo de mobilidade no Braille.
Claro, as pessoas com cegueira total atendidas pelo Braille chegaram muito antes que a pessoa sem qualquer deficiência visual vendada.
Ao retirar a venda, o participante captado na praça constatava a enorme distância entre ele e o concorrente, e só aí descobria quem estava concorrendo com ele.
Começavam, assim, as reflexões.
Hoje sei que aquela atividade teve uma série de erros. Além do amadorismo nas técnicas, usamos palavras e abordagens que hoje não utilizamos.
Mas sei também que os participantes foram tomados pela mesma sensação que nós ao entrar em contato com o trabalho daquela Instituição.
Além disso, aprendi, senti e vivi muito naquele dia. Em especial, ao final dele, quando saímos da praça, resolvemos passar em um café para conversar.
Foi nesta hora que Benê me propôs ter a mesma sensação dos participantes da praça.
***
Sentada na mesa do café, depois de me dizer que seria minha vez, Benê e Renatinha me pediram que colocasse a máscara utilizada na praça.
Era hora de pedir o café. Bem, café, não. Pediram logo uma cerveja.
A bebida chegou. Vendada, senti a garçonete se aproximando de mim. Ela perguntou se eu queria que ela abrisse. Não me lembro direito se ela abriu ou se Benê disse de lá que não precisava.
Mas o fato é que aquele copo, aquela cerveja e eu estávamos ali. Sem nos vermos!
Minha cabeça estava a milhão pensando em todas as histórias ouvidas e experiências vividas ao longo daquele projeto.
Quando me percebi sem enxergar, fui tomada por um desespero. Tive também certeza absoluta de que faria uma bagunça. Já me preparei para gritar pedindo um pano para secar a cerveja. Talvez, uma vassoura para pegar os cacos. Se não derrubasse o copo, erraria minha boca ou sei lá.
Ouvia o Benê e a Renatinha rirem.
Suspeitei que meus colegas filmavam.
Sentia meu coração bater na garganta.
Lembro perfeitamente de pensar em uma estratégia: “Vou passar a mão na mesa até encontrar o copo e, qualquer coisa, peço o pano.”
Respirei e fui.
Tateando, achei o copo.
“Calma, Vanessa, sente o tamanho da circunferência do copo primeiro. Pronto! Pega.” – pensava.
-Vanessa, achou o copo?, perguntaram.
-Sim.
-Vamos brindar!
“Putz, como vou achar o copo dele para brindar? Como ele vai achar o meu copo? É agora, prepara o pano mesmo!” – pensei.
E não é que, para minha surpresa, deu certo?
Claro, devem ter caído alguns pingos aqui ou ali. A força do tim-tim deve ter sido meio desproporcional. Mas eu não me lembro dessas coisas. Só me lembro da minha surpresa com o fato de ter dado certo. Como os copos se encontraram? Não sei.
Conversamos um pouco.
Lembro de me guiar pela voz deles. Lembro da interação. Aquela batedeira do meu coração foi passando e eu comecei a entrar no clima de um happy hour.
E, para quebrar todos meus pré-conceitos, era interação mesmo. Conversa, papo de amigos. Pasme, um happy hour. Não era uma conversa entre pessoas que não enxergam sobre não enxergar. Eram colegas de projeto conversando sobre a vida, o trabalho e a atividade realizada.
Não faço ideia de quanto tempo fiquei com a venda nos olhos. Mas sei que foi o suficiente para perceber que aquela era minha lição.
Fui tomada por uma sensação que até hoje não sei explicar. Acho que nunca contei sobre isso para ninguém. Tenho (e coloco no presente porque ainda tenho) vergonha de falar sobre isso porque vivendo aquele momento, constatei algo quase impronunciável. Existe vida. Sim, constatei que há vida sem as imagens como estamos acostumados.
Eu não sei o que eu pensava antes da experiência. Eu só sei que naquela hora, com os olhos vendados e vivendo, eu sentia que havia vida. Foi uma vergonhosa sensação de surpresa. Quase aquele meme do cérebro explodindo, sabe?
Minha constatação sobre a existência de vida, sensações e interação sem “enxergar” leva à suposição de que eu achava que não existia vida. Não sei se é isso que pensava, mas me sinto mal e envergonhada.
A situação ficou reverberando em mim por um bom tempo. Eu tentava entender tudo aquilo. Entender as sensações e experiências sem enxergar. Não entendi. Só senti. Só vivi.
Aos poucos, as lembranças foram se assentando dentro de mim até acomodarem-se em uma espécie de armário que guarda memórias não usadas com frequência.
Só que, recentemente, a Meire, minha amiga que usa cadeira de rodas para se locomover, disse-me que não andar sobre as próprias pernas não é castigo, é só um modo de vida.
Modo de vida…
Modo de vida?
Modo de vida.
Moooodo de viiiida!!!!!! É isso!
Quando a Meire falou sobre modo de vida, eu me lembrei da sensação daquele dia. E entendi.
Não se trata de deficiência. Não se trata do que falta. Não se trata de superação. Não se trata de vitimismo. Se trata de vida. Se trata de modos de viver, modos de sentir e experienciar.
Mesmo envergonhada, quis compartilhar porque sinto-me abençoada por ter feito essa constatação em tempo.
Sou privilegiada por ter tido na minha vida pessoas que abriram os olhos da minha alma que, essa sim, estava na cegueira.

#paratodosverem: a imagem em destaque traz uma mulher jovem, branca de cabelos castanhos com um vestido listrado usando as duas mãos para tapar os olhos
»Esse texto foi produzido na 1ª Oficina de Escrita – Palavras Inclusivas e faz parte de uma série de publicações que serão feitas aqui.
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O Universo das Pessoas com Deficiência
Muito se fala sobre o universo da Pessoa com Deficiência. Muitas vezes essa expressão aparece por conta da sua enormidade de variações e possibilidades. Entretanto, o universo da Pessoa com Deficiência é o mesmo universo que o seu. Independente de quem seja, de qual comunidade você pertence ou se identifica, o nosso universo é o mesmo. É por essa razão que temos cada vez mais focado os nossos esforços para a adaptação e conscientização desse lugar que dividimos, que todos pertencemos.
Por conta de tantos fatores históricos, as Pessoas com Deficiência carregam consigo um estereótipo de menos, limitados, incapazes e, ainda mais comum, ineficientes. Por muito tempo, acreditou-se que a palavra deficiente era o oposto de eficiente, excluindo totalmente a função da palavra “ineficiente” e deixando de trazer o real significado, que nada mais é do que a perda permanente, total ou parcial de uma das funcionalidades do corpo (OMS).
O que trago para grande reflexão é se, de fato, utilizamos todas as funcionalidades do nosso corpo para executarmos nossas tarefas em todos os âmbitos da nossa vida. Quando uma pessoa vive sem nenhuma deficiência, ainda assim ela encontrará barreiras em sua vida e o provável comportamento é que ela encontre, com ajuda de outras pessoas ou não, alternativas para transcendê-los e alcançar o seu objetivo. Considerando que fazemos parte da mesma raça, a humana, o mesmo acontece com as pessoas com deficiência.
A associação com a ineficiência e incapacidade vem de muitos fatores e, entre elas, destaco que ainda são encontradas muitas questões a respeito de quais condições e oportunidades são dadas à essa população, a qual, por muitas vezes, é invisibilizada e, consequentemente, esquecida.
Encerro esse texto convidando à toda população que se engaje na luta por direitos e políticas públicas que auxiliem à Pessoa com d-Eficiência para que ela também tenha condições de transpor suas barreiras conquistando o seu espaço nesse Universo Compartilhado.

#paratodosverem: a imagem em destaque traz uma ilustração de pessoas diversas lado-a-lado.
»Esse texto foi produzido na 1ª Oficina de Escrita – Palavras Inclusivas e faz parte de uma série de publicações que serão feitas aqui.
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Deficiência X Eficiência
Ouvi dizer que há mentes que são binárias. Compreendem o mundo a partir de comparações entre uma coisa e outra. Por exemplo:
- Claro x Escuro
- Feio x Bonito
- Azedo x Doce
- Branco x Preto
- Deficiência x Eficiência
Ahn?
Não!
Há um equívoco aqui!
O oposto de deficiência não é eficiência.
Isso pode ser o que a sociedade diz, sem pensar no que está dizendo.
Pense comigo…
Você conhece ou já viu alguém que anda sem usar as pernas, que enxerga sem ser com os olhos, que fala sem usar a boca, que escuta sem ser com os ouvidos, alguém que aprende utilizando mecanismos pouco conhecidos?
Se você já viu, conhece ou convive com pessoas com alguma característica semelhante às descritas acima, você já esteve diante de uma pessoa com deficiência.
Mas, o que, talvez, você não tenha notado é que essa pessoa com deficiência é também eficiente.
Pensa comigo, de novo…
Ela se locomove utilizando uma cadeira de rodas.
Ela vê e lê com o tato, com as mãos.
Ela fala sem usar a própria voz, usa a Língua Brasileira de Sinais e/ou alguma tecnologia assistiva.
Ela escuta lendo os lábios e/ou interpretando os sinais da Língua Brasileira de Sinais.
Ela aprende.
Então o contrário de deficiência não é eficiência, pois pessoas com deficiência são, ou podem ser, eficientes até mesmo naquilo em que têm alguma limitação. Perceba que o que muda é o modo como ela realiza determinada atividade.
Logo, se não houver acessibilidade arquitetônica, Braille, intérprete/tradutor de Libras, empatia, disposição, entre outras atitudes de respeito e amor ao próximo, a pessoa com deficiência terá sua autonomia prejudicada e poderão dizer que ela é ineficiente.
Fico muito feliz que você tenha chegado até aqui nesta leitura, pois agora você é capaz de entender que não é a pessoa com deficiência que é ineficiente, mas sim o ambiente em que ela está. Se esse ambiente não for adequado, irá impedi-la de ser eficiente, não é?!
Compartilhe essa forma de compreender a interação da pessoa com deficiência com o ambiente que a cerca. Precisamos quebrar o preconceito, TODOS precisam ter a chance de entender que deficiência não é antônimo de eficiência.

#paratodosverem: a imagem em destaque traz a foto de uma artista plástica pintando com os pés. Ela está sentada em uma cadeira de rodas e com o pé direito segura um pincel que utiliza para fazer uma ilustração
>> A imagem utilizada neste texto é uma foto da artista plástica e designer Priscila Fonseca do @feitocomospes
»Esse texto foi produzido na 1ª Oficina de Escrita – Palavras Inclusivas e faz parte de uma série de publicações que serão feitas aqui.

